Neste artigo listo os critérios a analisar quando escolhemos uma corretora, tento encontrar as melhores opções para investidores de longo-prazo, bem como perceber as vantagens e desvantagens das corretoras ligadas à banca portuguesa por comparação com corretoras especializadas estrangeiras.
Critérios a considerar na escolha de uma corretora
Para comparar corretoras é importante decidir quais os critérios de comparação. O que é que torna uma corretora melhor que outra, particularmente para investidores de longo-prazo? A lista abaixo agrega os factores de decisão mais importantes, sendo que diferentes investidores atribuirão diferente importância a cada um dos factores:
- Custos
- Disponibilidade de produtos (no meu caso ETFs)
- País de domicílio
- Regulação e Supervisão
- Transferência de posições
- Automatização fiscal
- Apoio ao cliente
- Reputação
A comparação efetuada neste artigo foca-se nos 5 primeiros pontos da lista acima, embora hajam também referências aos outros pontos.
A nível de custos e disponibilidade de ETFs, foquei-me apenas nos produtos incluidos nos meus portfólios modelo, e assumi uma frequência total de 12 transacções por ano (uma compra por mês e 0 vendas):
ETF/ETC | Bolsa | Compras por ano |
IWDA: iShares Core MSCI World UCITS ETF USD | Euronext Amesterdão | 7 |
ZPRV: SPDR MSCI USA Small Cap Value Weighted UCITS ETF | XETRA Frankfurt | 1 |
ZPRX: SPDR MSCI Europe Small Cap Val Weighted UCITS ETF | XETRA Frankfurt | 1 |
JPGL: JPM Global Equity Multi-Factor UCITS ETF – USD acc | XETRA Frankfurt | 1 |
VAGF: Vanguard Global Aggregate Bd UCITS ETF EUR Hgd Acc | XETRA Frankfurt | 1 |
8PSG: Invesco Physical Gold A ETC | XETRA Frankfurt | 1 |
Daqui resulta um total de 7 compras anuais na bolsa Euronext Amesterdão e 5 compras anuais na bolsa XETRA Frankfurt. Quando relevante para efeitos de cálculo dos custos totais, assumi uma transação média de 250€ e um portfólio com valor de 10.000€.
Dois tipos de opções
Na sequência do lançamento dos meus portfólios modelo, questionei-me acerca de qual a melhor corretora para adquirir os ETFs utilizados nos portfólios. Não basta apenas saber quais os produtos a comprar, importa também perceber onde comprá-los.
Depois de estudar as várias alternativas através das quais os investidores baseados em Portugal podem investir nas bolsas de valores, ficou claro que as opções disponíveis se separam claramente em dois grupos:
- Corretoras associadas a bancos portugueses
- Corretoras estrangeiras especializadas em negociação em bolsa
Segue-se uma análise a cada um destes dois grupos e às principais corretoras associadas a cada um deles.
Corretoras associadas a bancos portugueses
A corretagem junto de entidades portuguesas encontra-se geralmente associada a um banco, e divide-se em dois subgrupos:
- Soluções de Bolsas e Mercados dos maiores bancos portugueses (CGD, Millennium BCP, Santander Totta e restantes bancos tradicionais)
- Serviços de corretagem de bancos focados em investimento
Para efeitos deste artigo, comparei a experiência de investir em bolsa por via de:
- Os 3 maiores bancos tradicionais (CGD, Santander Totta e Millennium BCP, incluindo o seu banco digital ActivoBank)
- 4 bancos focados em Investimento (BIG, Carregosa, BancoInvest, Banco Best)
Eis os resultados:
A análise que fiz indica que o Banco Best é simultaneamente a opção mais barata e também aquela com maior disponibilidade de ETFs utilizados nos meus portfólios modelo. Ainda assim, o custo total anual rondará os 125€ (incluindo 12 transações e guarda de títulos), o que representa 1.2% de um portfólio de 10.000€, uma percentagem considerável.
As desvantagens de investir através de bancos portugueses estão identificadas: Elevado custo e, regra geral, alguma indisponibilidade de ETFs. Contudo, existem outros pontos que podem ser vistos como vantagens da banca portuguesa para alguns investidores:
- Regulação por parte do Banco de Portugal e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM)
- Serviços de apoio fiscal que facilitam o preenchimento da declaração de IRS (disponíveis apenas em alguns bancos)
- Apoio presencial ao cliente em localizações físicas em Portugal
- Historial de pelo menos 20 anos de atividade para todas as instituições referidas (duas delas chegando a mais de 100 anos de atividade)
Resumindo, corretoras associadas a bancos portugueses são geralmente caras e com oferta limitada para investidores passivos, mas podem ser uma opção válida para quem efetue um número muito reduzido de transações por ano (menos de uma por mês) ou para quem valorize a possibilidade de utilizar o serviço de atendimento presencial destas instituições. Na minha opinião, a melhor opção disponível em Portugal é o Banco Best, seguida do Banco Invest.
Corretoras estrangeiras
Nos anos mais recentes, investir em bolsa através de corretoras estrangeiras tornou-se muito mais fácil, e o número de opções disponíveis é cada vez mais elevado. O aumento da escolha é positivo mas, quando as alternativas são vastas, inevitavelmente algumas opções irão adequar-se melhor a uns investidores e outras opções a outros investidores. Neste sentido, antes de analisar ao detalhe as melhores corretoras para investidores passivos, vamos em primeiro lugar eliminar aquelas que, apesar de populares, têm um público-alvo diferente.
Assim, deixei de fora da minha comparação detalhada as seguintes corretoras:
- Corretoras focadas em câmbio (FX) e/ou opções (CFDs): XTB, tastyworks, tradestation, eToro
- Corretoras focadas em criptoactivos: Alpaca
Para as restantes corretoras, foquei-me novamente em entender os custos de transação e disponibilidade dos ETFs que utilizo. Contudo, dada a origem estrangeira das mesmas, acrescentei informação referente aos países em que os serviços de corretagem são regulados, bem como o facto de serem ou não cotadas em bolsa. Estes dois pontos conferem informação adicional relativamente ao nível de segurança de cada uma das corretoras. Segue-se a tabela comparativa das melhores corretoras estrangeiras para investidores passivos de longo-prazo:
Olhando para a tabela, de imediato se torna evidente que os custos de transação em corretoras estrangeiras, com excepção do Saxobank, são muitíssimo inferiores aos custos em que incorremos junto da banca portuguesa. De entre todas as opções listadas, a Interactive Brokers é a minha preferida, aparecendo em segundo lugar a DEGIRO, pelos seguintes motivos:
- Custos anuais muito reduzidos, entre 15€ a 27€, um valor que considero acesssível para qualquer investidor
- Disponibilidade de todos os ETFs utilizados nos meus portfólios modelo
- Regulação e supervisão por parte de entidades sedeadas em países de elevada confiança (E.U.A., Alemanha, Holanda, Irlanda)
- Corretoras cotadas em bolsa, o que acrescenta um nível de escrutínio adicional, algo que ainda o ano passado foi notícia no caso da DEGIRO
- Historial de 15 anos (DEGIRO), 24 anos (banco Flatex) ou 45 anos (Interactive Brokers) de atividade
Relativamente às outras corretoras listadas, não sendo más opções, todas elas são em algum aspecto inferiores à DEGIRO e Interactive Brokers:
- A Trading 212 tem os seus serviços de corretagem regulados no Chipre e não permite a transferência do nosso portfólio para outra corretora, o que significa que o investidor teria de vender as suas ações na Trading 212 e recomprá-las noutra corretora, podendo desencadear impostos de mais-valias
- A Trade Republic tem disponibilidade dos ETFs que utilizo inferior à das outras corretoras listadas (mas têm vindo a melhorar a sua oferta)
- A Nextmarkets, que pretende ser a versão europeia da corretora Robinhood, tem os seus serviços de corretagem regulados em Malta, foi fundada apenas em 2014 e iniciou operações muito mais recentemente
Conclusão
Interactive Brokers e DEGIRO são, na minha opinião, as melhores opções para um investidor passivo de longo-prazo sedeado em Portugal ou na Europa. Estas corretoras têm boa disponibilidade de produtos, custos acessíveis, supervisão apertada e um historial de atividade razoavelmente longo. Sem surpresa, são as duas únicas corretoras que eu utilizo.
Investir em bolsa através de serviços de corretagem de bancos portugueses parece-me uma opção menos interessante mas, se um investidor fizer mesmo questão de seguir por esta via, o Banco Best foi a opção que ficou no topo da minha análise.
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Atualizações
Em Maio de 2023 procedi às seguintes atualizações neste artigo:
- ETF de obrigações (VAGF) marcado como indisponível no ActivoBank.
- Preçário Interactive Brokers atualizado (Preço de ações americanas desceu de $1 para $0.35)
- Preçário DEGIRO atualizado com as novas comissões de manuseamento válidas desde 15 de Maio de 2023
- Preçário nextmarkets atualizado (Transações abaixo de 500€ custam agora 1€, em vez de 0€)
- ETFs de Fatores (JPGL apenas) e Obrigações (VAGF) marcados como disponíveis no Trade Republic
- ETF de Ações IWDA alterado de “Grátis” para “Disponível” na DEGIRO